café frio

Parecia que a ressaca não tinha só tomado conta do seu corpo, como também da alma.

O gosto amargo na boca.

Uma dor fraca, mas insistente na têmpora.

E a sensação de um urso pardo sentado em seus ombros.

Ele olhou pra Pedro, soltou um gemido e foi procurar abrigo em seu colo.

Pedro enfiou os dedos entre os cachos cor de mel do cabelo de Gustavo.

Ele ainda estava no sonho, mesmo depois de Gustavo ter acordado.

Mas quanto tempo isso ia durar?

Deu-lhe um leve beijo na testa.

_ Sinto que estou morrendo, lentamente.

_ Drama Queen.

_ Eu preciso de café.

_ O café está frio.

_ Não importa. Eu continuo precisando de café.

Parte do sonho de Pedro estremeceu. Aquilo já havia acontecido antes.

Ele fala, eu faço. Se eu não fizer, ele nunca vai gostar de mim.

Pedro levantou com cuidado.

Era sempre assim. Eles ficavam juntos. Gustavo pedia mimos, Pedro os dava, com medo de não conseguir ter o amor dele. E então, ele se perdia, se afastava, mas enfim retornava aos braços dele.

Pedro atravessou o quarto com passos pesados, lamentando que o sonho estava acabando, e foi pegar café.